sábado, 13 de dezembro de 2008

Desmistíficando um ídolo




“Então me abraça forte e me diz mais uma vez que já estamos distante de tudo”

Todos os dias antes de dormir, eu lembro e às vezes me esqueço como foi meu dia. Existem dias que transito pelo cinza e chego ao multicolorido em questão de segundos, sou tão inconstante como as nuvens, tão radical como elas. Há dias que por trás de mim o céu é azul, mas a importância da nuvem está na chuva, ai sim me identifico com ela, gosto da chuva, sou feito de trovão e relâmpagos.


Esses dias conversando com uma amiga minha, Patona, amiga pela qual eu tenho uma enorme admiração, ela me disse que enterraria todos seus amigos. Triste mas ao mesmo tempo tão bonito. Lembre-se de mim Patona, como diria Renato Russo, “os bons morrem jovens” e o eterno dura um pouco mais.
É comum nas letras da Legião você encontrar alguma resposta, algum sentido para qualquer assunto. Muita gente enjoou da Legião talvez por que é impossível não citar qualquer letra do Renato no seu dia a dia, mas sempre que algo acontece lá esta você novamente, deitado no seu quarto, pensando na vida e dizendo pra si mesmo:

-“Temos todo tempo do mundo” ou “Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou”

São versos perfeitos, quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender, talvez Renato conseguisse explicar e colocar nas músicas as coisas que nunca consegui dizer ou explicar. Mas vamos desmistificar esse ídolo.
Por trás dos versos do poeta, existem sempre outros poetas, outros pensadores, outros filósofos e muitas vezes, não percebemos isso. Fui além de ouvir “ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud”, fui procurar saber quem era “esses caras”. Ele mesmo dizia que não era tão genial, que se você procurasse saber um pouco mais, iria descobrir de onde ele tirava tantas coisas belas. Nas conversas com fãs, Renato indicava livros e dizia:

- Vá pra casa, estude, depois volte aqui pra gente conversar.

Uma vez, consegui o telefone da casa de dona Carminha, mãe de Renato, não pensei duas vezes, liguei. Conversei com ela por 10 minutos, falei do fã clube que havia montado com uma ex-namorada, dos planos que tínhamos, de como Renato era importante na minha vida. Dona Carminha me disse:

- Meu filho, estude, leia e me ligue depois pra gente conversar. Isso era o que o Junior (como sua mãe o chama) queria.

Segui os conselhos de Dona Carminha, em 10 anos evolui bastante, conheci pessoas fabulosas, cheias de conteúdo, li bons livros, aprendi a ouvir e não debater sobre o que não conhecia. Ronnie quem diga. Eu produzi bastante em 10 anos, segui também os conselhos de Renato. “Ora se você quiser se divertir invente suas próprias canções”. E lá fui eu inventar minhas próprias canções.
Encontrei nos livros as idéias de Renato, e tome dose de Hermann Hesse, Oscar Wilde, Nietzsche, Sêneca e overdose de Fernando Pessoa. Em sua casa, Renato tinha aproximadamente três mil livros, milhares de discos. Quando alguém lançava um livro e enviava a Renato de presente, ele dizia: “Eu já li“. Influência era tudo e chegava à beira do plágio às vezes. “Que País é esse” é puro Ramones, “Central do Brasil” do disco “Dois” tem nítidas notas iguais às músicas de Joni Mitchell. “Tempo Perdido” é um Smiths puro.
Mas não podemos dizer que Renato não tinha seu valor, tem e muito Conseguiu dizer as palavras certas, nas nossas horas erradas. Sim, nas nossas horas erradas, duvido você conseguir ouvir “Por Enquanto”, “Sete Cidades”, “Quando Você Voltar” e “Vento no Litoral” em uma seqüencia só após um termino de namoro. Vai? Quero ver.

“E tudo era pra sempre sem saber que o pra sempre, sempre acaba” (Por Enquanto)

“Quando não estás aqui, sinto falta de mim mesmo e sinto falta do teu corpo junto ao meu. Vem depressa pra mim, que eu não sei esperar, já fizemos promessas demais” (Sete Cidades)

“Vai se você precisa ir, não quero mais brigar essa noite. Nossas acusações infantis e palavras mordazes que machucam tanto” (Quando você voltar)

“Dos nossos planos é que tenho mais saudades”
“Aonde está você agora além de aqui dentro de mim”
“Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou, vai ser difícil sem você”
“Já que você não está aqui o que posso fazer é cuidar de mim”
“Lembra que o plano era ficarmos bem”

(Vento no Litoral)

Oscar Wilde dizia que “Influenciar pessoas é dar a elas a própria alma”, Renato deu a sua, exprimiu todo sentimento de uma geração. Abriu sua vida nas letras e deu um sentido a vida que muitas vezes não achávamos explicação. Vamos definir o ídolo? Colocamos Renato como a ponte entre a ignorância e o conhecimento, atravessando você vai conhecer a fonte das letras.

Bons Estudos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar, força pra você e a gente se vê por aí