segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Brasília, A Capital da Música


“Capital da esperança, asas e eixos do Brasil. Longe do mar e da poluição, mas um fim que ninguém previu.” E quem pode prever alguma coisa sobre Brasília? Capital das grandes surpresas (em todos os sentidos).Inaugurada no dia 21 de Abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília é conhecida como Capital Federal do Brasil, onde lá são tomadas as principais medidas de nossos governantes. Mas o planalto não é só conhecido por isso, lá é a capital da cultura também.
O pesquisador Wagner Homem (1), autor dos livros “Histórias de Canções” deChico Buarque e Toquinho conta que: “O presidente Juscelino queria inaugurar Brasília, a nova capital, obra máxima de sua gestão, com projeto do urbanista Lúcio Costa e prédios de Oscar Niemeyer, com um grande espetáculo de luz e som, à semelhança do que se fazia na Europa.O convite foi feito e em fevereiro de 1958 e a dupla (Tom Jobim e Vinícius de Moraes) começou a trabalhar no projeto.” Mas a sinfonia acabou não sendo executada na inauguração por falta de dinheiro.
Durante o período em que ficaram em Brasília para terminar a Sinfonia da Alvorada, Tom e Vinicius hospedaram-se no Catetinho, residência provisória do presidente da república. Nas cercanias da casa por onde costumava passear havia um córrego. Tom indagou a um trabalhador se a água era potável. A resposta foi “é água de beber, sim senhor”. A música “Água de beber” começou em Brasília e 10 anos depois foi imortalizada na voz de Frank Sinatra.
No final da década de 60 o cantor Ney Matogroso trabalhava na área da saúde na capital federal e vivia entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi quando recebeu um convite de João Ricardo para montar a banda que revolucionaria a música brasiliera, os Secos e Molhados.
No começo da década de 70, Oswaldo Montenegro adota Brasília como a cidade do seu coração e lá toma conhecimento de música erudita nos concertos do Teatro Nacional. Nos anos que seguiram, Oswaldo ganhou o país e venceu festivais importantes da época, entre eles o MPB 80. Nos bastidores dos festivais que o cantor comandava na cidade, uma garotinha ia tomando destaque, anos depois ela seria conhecida como Cássia Eller.
O Punk Rock acelerou ainda mais a cultura brasiliense, jovens entediados das tardes da capital resolveram então adotar a filosofia punk que chegava da Inglaterra. Ao som de Sex Pistols e Clash, jovens como Renato Russo,Dinho Ouro Preto, Philippe Seabra e Herbert Viana matavam o tempo ouvindo e lendo tudo que saia sobre o novo som que tomava de assalto as rádios do mundo. O Punk Rock surgia para abalar as estruturas do Planalto.
(2) “No começo era mais aquela coisa: Você não precisa saber tocar pra subir em cima do palco. Então, todo mundo formava banda. A gente não era situacionista, nem anarquista. A gente falava sobre certas coisas, mas basicamente era Diversão, Rock ‘n’ Roll e Sexo.” Dizia Renato Russo.
Philippe Seabra comenta que: (3)“Estando em Brasília, isolado fisicamente do resto do Brasil, embaixo da asa do João Figueiredo, era o governo Figueiredo, com censura, repressão militar, deu esse sotaque singular que o rock de Brasília tem. Se não fosse Brasília, nada disto teria acontecido. Brasília formou essa turma como nenhuma outra cidade formaria.”
Bandas foram formadas, Philippe Seabra e André X montaram a Plebe Rude. Os irmãos Fê e Flávio Lemos ao lado de Loro Jones e Dinho Ouro Preto, batizaram sua banda de Capital Inicial. E Renato Russo, líder da “Tchurma” como gostava de chamar, ao lado de Marcelo Bonfá, forma a Legião Urbana.
Além da diversão e da fuga do tédio tendo a música como válvula de escape, as letras eram diretas e politizadas, afinal, Brasília transmitia isso. Muitas destas letras eram censuradas e para fugir das garras do censor, as bandas alteravam as letras para serem liberadas para execução pública. Acontecia mais ou menos assim:
A letra original dizia: “Moramos na cidade, também o presidente e todos vão fingindo viver decentemente. Só que eu não pretendo ser tão decadente, não”. Para então passar pela censura, virava: “Moramos na cidade, também o presidente e todos vão vivendo tão decentemente.” Sem fiscalização do governo, nos shows da turma, as músicas eram cantadas conforme era escrita originalmente, mas a polícia não deixava passar e sempre algum show ou festa que a galera promovia acabava na delegacia.
Plebe, Capital e Legião representaram a cara de Brasília no Rock Brasileiro dos anos 80. Músicas como “Que País é este”, "Geração Coca-Cola”, “Censura”, “Até Quando Esperar”, “Fátima”, “Tédio”, “Brasília”, “Música Urbana” entre outras, soam como atuais até hoje.
“Todo esse lado político apareceu meio sem escolha, fomos empurrados nessa direção por morar em Brasília. Eu sempre achei que o artista tinha que aproveitar o espaço que é dado. Usar de maneira responsável, de maneira consciente. O que não muda é uma espécie de inconformismo, sabendo que a gente tem essa voz através da música, a gente tenta usar isso. Essa visão que tá errado, que só tem maracutaia, a gente tenta alertar, é uma gota no oceano e a gente tenta alertar as mazelas que estão rolando.” Diz Philippe.
Brasília completa 51 anos e pode se orgulhar da música que revelou ao Brasil. Mesmo não podendo se orgulhar de quem governa ou quem governou o país nestes anos, alguns artistas que surgiram na capital federal podem cantar com orgulho por muitas gerações:
“Verás que um filho teu não foge a luta”

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